poesia . fotografia . & etc.


Talvez o mundo não seja pequeno / Nem seja a vida um fato consumado . Chico Buarque de Hollanda, com Gilberto Gil








quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

das palavras dos outros






daniel jonas / in Passageiro Frequente, Língua Morta, 2013



 VELHO MESTRE


O silêncio
de um fruto sobre a mesa,
apenas ferido
por um gume de luz
no meridiano.

Mas nenhuma ameaça,
nem o arnês de dedos
formando-se no horizonte,
apenas o golpe do sol
afiado na vidraça.

Um fruto
é um velho mestre
esperando na luz
as trevas
do amadurecimento.




humberto rivas




    



quinta-feira, 19 de dezembro de 2013


# Em Agenda #







na capa - desenho de   Daniela Gomes










[250 exemplares, 92pp. 12€]
pedidos:edlinguamorta@gmail.com




 

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

o lugar que muda o lugar





O exemplo dos bichos de prata


Recorrer com método à diversa
sabedoria de chegar-se ao mundo
maneiras de comer os frutos

Diz-se, muito de manhã é ouro
à tarde apenas prata, à noite
mata mesmo, literalmente

Esta prata, a dos preciosos bichos
sombrios na cidade dos livros
e eis aqui uma imagem

Difícil sabermos da metafórica
anatomia, carregá-la apenas
e um dia arrastará o nosso
corpo íntimo e exposto

Miméticas qualidades, devorar
os papéis propriamente ditos
fixar a transparência na lâmina
das páginas, rasgões, algum sangue
e os fósseis de grafite como
românticas flores esmagadas

Há-de vir, do desvão das estantes
o último apuro da expressão
ficar como pura pedra
esgarçar na nervura do ar
em vibrante iluminura final
tudo arder em graus fahrenheit


 
JMTS 






em
O LUGAR QUE MUDA O LUGAR
[150 exemplares, 64 
pp., 11€]
pedidos:
edlinguamorta@gmail.com



Língua Morta 041 (aqui)



terça-feira, 26 de novembro de 2013

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

o coração vertiginoso e a lentidão do mundo







  












fritz lang . you only live once . 1937
com Henry Fonda e Sylvia Sidney


O cinema. A sabida intensidade narrativa. O poder da montagem. Mas não esquecer a arte da suspensão da vida entre temporais, momentos que insistem, o que existe "outrora agora" (cf. Pessoa). As vivas aparições, arquétipos que afinal respiram.








Retomo hoje a etiqueta 
"o coração vertiginoso e a lentidão do mundo" (aqui), 
em torno do cinema. A imagem foi recolhida aqui.


 

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

o lugar que muda o lugar





J. W. Goethe Contempla o Jogo das Nuvens


Será eterna música das esferas
mas é incerto em demasia o estado do tempo
e excessiva a concentração
de corpos atmosféricos

Stratus, cumulus, cirrus, nimbus
tivéssemos nomes iguais a nuvens
e alcançássemos matérias rarefeitas
acumulações do lugar, o que está sempre 
por detrás, e antes, muito longe

Poetas, meteorologistas, hóspedes das termas
procurando ansiosamente o barómetro
ficamos a contemplar o mais alto vapor
em objectos difusos e na palidez dos céus 
as figuras onde tudo repousasse

Encharca-nos obscura vocação
perder uma nuvem após a outra
perseguir entre atalhos de luz 
a lógica selvagem da tempestade

Já falta pouco, o éter sublime
será apenas o manto branco
que oculta telhados, esterco, vedações
e não consegue deter o louco cata-vento

É ele quem afinal se explica  
com palavras sufocadas
deixa pedaços do mundo
a estremecer a janela

 
JMTS 







em
O LUGAR QUE MUDA O LUGAR
[150 exemplares, 64 
pp., 11€]
pedidos:
edlinguamorta@gmail.com



Língua Morta 041 (aqui)




domingo, 20 de outubro de 2013

das palavras dos outros






egito gonçalves / in O Pêndulo Afectivo, Porto, Afrontamento, 1991




 AFOGADO NO RIO LEÇA


Vogavas entre duas águas com o corpo torcido
e a corrente impelia-te, vagarosamente, para a foz.
O coração batia mas já não respiravas;
a morte instalava-se no teu corpo molhado.

Devagar montava a máquina dos sonhos,
devagar armava-te as futuras asas.

No mar afundavam-se os símbolos da tarde;
enovelado, sem poesia, asfixiavas,
descendo o rio em direcção à noite,
descendo o rio em direcção à liberdade.

As unhas violáceas, os cabelos flutuando,
o sangue estrangulado, a fome liquefeita...

Então, como a um menino, alguém te conduziu para a margem relvada.
A Morte sentou-se a ver os trabalhos de respiração artificial,
depois disse-te «Adeus», acenou-te «Até breve»,
e aproveitou a ambulância que te levava ao hospital
para ir mais depressa à sua vida.

1951







 m. álvarez bravo







quarta-feira, 9 de outubro de 2013

# Em Agenda #



 


Leituras de Susana Guimarães 





* Mapa e itinerários para o Solar poderão ser consultados em       http://binged.it/1bsj8vx 
* GPS: 41.0720454 -8.5986292 (coord. decimais)    GPS: 41° 4' 19.327" N 8° 35' 55.046" W (coord. angulares) 


quarta-feira, 25 de setembro de 2013

lugar que muda o lugar








O LUGAR QUE MUDA O LUGAR
[150 exemplares, 64 
pp., 11€]
pedidos:

edlinguamorta@gmail.com


Língua Morta 041 (aqui)

 

  

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

O aprendiz de FEITICEIRO
teorias portáteis sobre poesia




Ramos Rosa: poesia, liberdade livre

Há em alguns um modo raro de escrever a vida e de viver a poesia. É um caminho muito estreito e assim deslumbrado. 



André Letria


O poeta moderno descobre e denuncia a alienação total de um mundo cruel e desumano. Não há lugar, não só para o poeta e para a poesia, "não há lugar" simplesmente: a possibilidade de uma respiração livre e fraterna , de uma harmonia viva, apenas se propõe no exercício da poesia, no grito que ela é. A poesia descobre-se com Rimbaud "liberté libre", mas infernal. 

Poesia, Liberdade Livre,  col. O Tempo e o Modo, Livraria Morais Editora, 1962




Onde estou aqui quisera estar
monotonamente ardente
serenamente vivo
animal da fábula doméstica
concreto sob a materna sombra
fiel ao fundo do tempo
e de mim mesmo

O livro da Ignorância, Signo, 1988







outras teorias portáteis sobre poesia aqui
imagem vista aqui 

terça-feira, 3 de setembro de 2013

das palavras dos outros






seamus heaney / in Death of a Naturalist
 [ Antologia Poética . Seamus Heaney. selecção e tradução de Vasco  Graça Moura , Campo das Letras, 1998]



HELICON PESSOAL
para Michael Longley

Em pequeno, ninguém me tirava da beira
de poços, velhas bombas com roldana e balde.
Amava o escuro gotejar, o céu cativo, onde cheira
a ervas, fungos, musgo, relentos de humidade.

Numa tijolaria, havia um de tampo podre. Como
sabia o rico choque de um balde que baixava
na ponta de uma corda assim a prumo!
Tão fundo que nem um só reflexo dava.

Um, menos alto, sob o rebordo, ia
frutificando como aquário. E a quem puxasse
longas raízes da rede húmida e macia,
sobre o fundo boiava a branca face.

Outros tinham ecos, a devolver a voz sem faltas
em limpo e novo som. E era um puro susto
porque lá, entre os fetos e as dedaleiras altas,
no meu reflexo um rato dava um sacão brusco.

Agora, espreitar entre raízes, dedilhar o limo,
olhar, Narciso de olhos grandes, uma nascente, não
é digno de um adulto. Eu rimo
para me ver, para dar eco à escuridão.




 george konig

"Two sewer workers examine the Fleet sewer, London, 
at low water level, 14 January, 1914"








sexta-feira, 23 de agosto de 2013

das palavras dos outros






fernando echevarría / in Sobre os mortos, Afrontamento, 1991



O corpo dos defuntos é enigmático:
não tem além de si, nem dentro.
Nada se lê no seu volume. O pacto
substante que sustenta o pensamento
cedeu lugar a um vácuo
a dar somente para estar cedendo.
O corpo dos defuntos é enigmático
porque o enigma, nele, perdeu seu peso.

*

Das figuras amadas fica o eco
da sua refulgência de figuras.
São quase mágoa de sítio
em que, havendo-se já apagado a lua,
brilhasse ainda o vácuo
duma presença para sempre nula.
E, contudo, o firmamento
se ilumina das máculas nocturnas
desses ecos amados entre lágrimas
na sua refulgência de figuras.






hervé guibert








quarta-feira, 10 de julho de 2013

das palavras dos outros





antónio ramos rosa / in Três Lições Materiais, Kairos, 1989


Energia verde das árvores que torna todo o amor verde e os próprios esqueletos verdes. Os corpos constroem a sua destruição horizontal como rios verdes: para além da morte: no gérmen verde.

*

Aceita, acolhe a minúscula astronomia de um jardim: os insectos com as suas múltiplas facetas e as delicadas antenas com que se orientam. Ao rés do chão: um ramo partido, uma formiga, a baba de um caracol. Fascinantes, meticulosos são os vocábulos que compõem as constelações legíveis, intactas. Uma fábula adormece ao sol das folhas: o jardim é um estremecimento.






josef sudek








quinta-feira, 27 de junho de 2013

das palavras dos outros


Fui resistindo a pôr aqui palavras poéticas dos outros. Não faz sentido: as nossas palavras são, de uma forma ou de outra, as palavras dos outros. Há, em transparência ou em camadas, o rascunho das nossas palavras e depois, quase a transbordar e às vezes em blocos de gelo impenetrável, o rio subterrâneo das palavras dos outros.


*


inês lourenço / in Coisas Que Nunca, Lisboa, & etc., 2010



SALA PROVISÓRIA

Nunca se sabe
quando estamos num lugar
pela última vez. Numa casa
que vai ser demolida, numa sala
provisória que vai encerrar, num velho
café que mudará de ramo, como
página virada jamais reaberta, como
canção demasiado gasta, como
abraço tornado irrepetível, numa
porta a que não voltaremos.





henri cartier-bresson







quarta-feira, 12 de junho de 2013

ver . ver ponto








ver.  
59 anotações fotográficas           ed. autor / Blurb . dezembro 2012

78 pp. | capa mole | papel ProLine texturado     

Uma reflexão fotográfica acerca do acto de ver.




As fotografias da série ver. , apresentadas em Súbito, deram corpo a um livro. É uma edição de autor, que neste vídeo se desfolha. A publicação foi preparada através da etiqueta BLURB, que disponibiliza ferramentas de edição e permite a impressão a pedido (print on demand).

Pode ser adquirido aqui








quinta-feira, 30 de maio de 2013

lugar que muda o lugar
  



Os poemas deste ciclo surgiram em Súbito meses a fio. Viajam agora para uma edição Língua Morta, daqui a algum tempo. Gostam da liberdade de se mudarem de lugar e da ilusória sensação de serem perseguidos.




pulse field . Emma McNally
visto aqui







segunda-feira, 20 de maio de 2013

ANIMA
poemas de J.M.T.S.
trabalhos de Ana Abreu|Espaço(I)maculado











Animal que devora o próprio fim
a batata insiste, persiste nela
avança para onde não estará
distende as presas, garras de si mesma
e meninas bordam, dobram motivos
de humidade, quadros de bolor
o que vai vivendo nas naturezas mortas





As imagens de batatas e borboletas fazem parte de conjuntos iconográficos cujo desenvolvimento teve como referente o arquivo do Instituto de Reinserção Social para Raparigas, que durante décadas esteve sediado no espaço do Convento Corpus Christi, em Vila Nova de Gaia.


ANIMA está publicado nas edições LÍNGUA MORTA  aqui






terça-feira, 14 de maio de 2013

# Em Agenda #





Está já publicado o nº 18 da revista DiVersos - Poesia e Tradução (Fevereiro de 2013, edições Sempre-Em-Pé). Para além de originais de poesia portuguesa, destacam-se traduções para português de poesia de Albert Ayguesparse (Bélgica, trad. de A. Barros), Hölderlin (Alemanha, trad. de Jorge Vilhena Mesquita) e Phillip Sterling (E.U.A. , trad. de José Carlos Marques). Colaboro neste número com quatro textos do ciclo Música de Anónimo (poemas 2001-2009), ainda inédito em livro:

A janela do atelier de J. Sudek
Os cadernos de esboços de J. W. Turner
As raparigas de Capri em pintura de H. Pousão
G. Mahler na cabana junto ao lago


O projecto DiVersos, na ocasião da publicação deste número, será apresentado na próxima sexta-feira, 17 de Maio, pelas 18h15, no Palacete Viscondes de Balsemão, no Porto, à Praça Carlos Alberto. Lá estarei, com outros participantes, para falar sobre poesia, tradução, ler alguns textos. Se passarem pelo local nesse fim de tarde, será um bom pretexto de encontro.








segunda-feira, 29 de abril de 2013

oCorpodasLetras



 


Azulejo ou l' illusion visuelle

filme:Kolja Saksida (direcção e animação)
poema:excerto de Fernando Pessoa/Álvaro de Campos(Tabacaria)
música:Mário Trovador 

visto aqui






sábado, 6 de abril de 2013

as súbitas permanências



ARRABALDE

Sabes do destino das ruas mais distantes
e aí persistem plenas as ausências
moradas de um abandono iluminado
Seguimos as pisadas que se perdem
o canto rouco das torrentes da poeira
demolidos portões, a ferrugem das passagens
Nos teus olhos outros olhos que se afastam
ao longe noutro arrabalde
e tudo disposto para sempre sem lugar


 
J.M.T.S. in As Súbitas Permanências, Quasi Edições, 2001 (aqui)






 Edward Heim, New York, 1920's








sexta-feira, 29 de março de 2013

ver . ver ponto






O projecto fotográfico ver. concretizou-se na publicação de um livro. É uma edição de autor preparada através da Blurb, empresa que disponibiliza, sem custos, ferramentas de edição e publica na modalidade "print on demand". 

O volume pode ser adquirido aqui
Ver também aqui.

 
ver.  59 anotações fotográficas           
ed. autor / Blurb . dezembro 2012
78 pp. | capa mole | papel ProLine texturado     

Uma reflexão fotográfica acerca do acto de ver.