poesia . fotografia . & etc.


Talvez o mundo não seja pequeno / Nem seja a vida um fato consumado . Chico Buarque de Hollanda, com Gilberto Gil








terça-feira, 27 de abril de 2010

olhos nos olhos


Jeanloup Sieff - Istanbul - 1959


Um barqueiro sombrio? Recorde-se a inclinação de certas horas ou o embalo com que chegam as cidades, aparecem, desaparecem com os avanços das vagas, o vogar atento dos peixes. Saltaremos de barca em barca, até alcançarmos os cais flutuantes, balançam imenso logo que neles assentamos os pés. As torres sobem até ao céu, mergulham com as casas em atropelado precipício. Um pouco mais tarde, esqueceremos a viagem na ondulação dos mercados, ruas e becos. Aí naufragaremos para sempre.

J.M.T.S.



sexta-feira, 23 de abril de 2010

as súbitas permanências



O JOVEM BACH, IMPROVISANDO EM OHRDRUF


Aqui estou de improviso
rapaz solitário no gelo do tempo
Talvez se chame destino, é uma cifra inspirada
água que de longe corresse nos dedos mais vivos
Ficam rígidos se paro
e a música brilha, então, silenciosa no ar da neve
Horas e horas a fio
abre-se-me a vida, imparável, submissa
como se houvesse uma glória das coisas
que assim nos fosse sensível
Voos que de voos se engendrassem
do mais surdo rumor dos dias
velórios sucessivos, a lenha conquistada
tantas outras fugas
O vento destas frinchas enregela os ossos
oxida a floresta dos tubos
musa de um desarmado fervor cósmico
Assim se aprende
no acaso decidido dos meus dedos
que tudo pode afinal acontecer
aqui tão só, mal chegando aos pedais
que movem o mundo


J.M.T.S. in As Súbitas Permanências, Quasi Edições, 2001 (aqui)






























































Amélia Piedade
trabalhos originais para o poema
"O Jovem Bach, improvisando em Ohrdruf"








sexta-feira, 2 de abril de 2010

as súbitas permanências


PRENÚNCIO
para a Maria José

Se repetes o sopro luminoso
dos rios das estrelas do lugar
estremecem no tecido do silêncio
os fios do trovão assim suspenso
e as folhas sussurrando entre linhas
inscrevem agora espelhadas
um arrepio teu na minha pele


J.M.T.S. in As Súbitas Permanências, Quasi Edições, 2001 (aqui)








































Amélia Piedade
trabalhos originais para o poema "Prenúncio"