seamus heaney / in Death of a Naturalist
[ Antologia Poética . Seamus Heaney. selecção e tradução de Vasco Graça Moura , Campo das Letras, 1998]
HELICON PESSOAL
para Michael Longley
Em pequeno, ninguém me tirava da beira
de poços, velhas bombas com roldana e balde.
Amava o escuro gotejar, o céu cativo, onde cheira
a ervas, fungos, musgo, relentos de humidade.
Numa tijolaria, havia um de tampo podre. Como
sabia o rico choque de um balde que baixava
na ponta de uma corda assim a prumo!
Tão fundo que nem um só reflexo dava.
Um, menos alto, sob o rebordo, ia
frutificando como aquário. E a quem puxasse
longas raízes da rede húmida e macia,
sobre o fundo boiava a branca face.
Outros tinham ecos, a devolver a voz sem faltas
em limpo e novo som. E era um puro susto
porque lá, entre os fetos e as dedaleiras altas,
no meu reflexo um rato dava um sacão brusco.
Agora, espreitar entre raízes, dedilhar o limo,
olhar, Narciso de olhos grandes, uma nascente, não
é digno de um adulto. Eu rimo
para me ver, para dar eco à escuridão.
george konig
"Two sewer workers examine the Fleet sewer, London,
at low water level, 14 January, 1914"
"Two sewer workers examine the Fleet sewer, London,
at low water level, 14 January, 1914"
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