poesia . fotografia . & etc.
Talvez o mundo não seja pequeno / Nem seja a vida um fato consumado . Chico Buarque de Hollanda, com Gilberto Gil
sexta-feira, 24 de dezembro de 2010
sábado, 27 de novembro de 2010
teorias portáteis sobre poesia
Poesia e Real ou O Poeta e o Mar
quarta-feira, 10 de novembro de 2010
Tenho a honra e a alegria de colaborar neste projecto. Será feita uma leitura encenada do meu texto para teatro Penas Pesadas da Neve, que pretende visitar por dentro a vida, a música e o pensamento de Olivier Messiaen (Centro Dramático de Viana: Castro Guedes- leitura e direcção cénica; Ricardo Simões- leitura). O destaque vai para o restante programa: as conferências da tarde ( "Leituras da morte e da esperança na poesia portuguesa"), o concerto da noite (Quarteto para o Fim dos Tempos de O. Messiaen) e a exposição com esculturas de Karin Somers. O meu texto pode ser lido neste blogue, a partir da ligação "teatro" da barra lateral ou, mais comodamente, aqui . Aqui e aqui encontram-se outras informações.
A pergunta na hora de partir [Daniel Faria]
leituras da morte e da esperança na poesia portuguesa
15 Nov. 2010
Universidade Católica . Porto Foz
Auditório 1
15.00h. Abertura: Prof. Joaquim Azevedo
15.30h. António Nobre - José Carlos Seabra Pereira
16.00h. Teixeira de Pascoaes - António Cândido Franco
17.00h. pausa / café
17.30h. Ruy Belo - Manuel António Ribeiro
18.00h. Daniel Faria - Carlos A. Moreira Azevedo
19.00h. Encerramento: D. Manuel Clemente
Auditório Ilídio Pinho
21.30h.
Penas Pesadas da Neve . José Manuel Teixeira da Silva
Quarteto para o Fim dos Tempos . Messiaen . Filipe Pinto-Ribeiro (piano), Pascal Moraguès (Clarinete), Tatiana Samouil (violino), Justus Grimm (violoncelo)
Decorrerá simultaneamente uma exposição com esculturas de Karin Somers
Inscrições até 10 Nov. 2010
SDPC . Porto sdpcultura@gmail.com
domingo, 31 de outubro de 2010
J.M.T.S.
segunda-feira, 25 de outubro de 2010
Súbito faz hoje um ano. Apenas um ponto no trânsito das passagens. Cruzamentos de vozes, luzes, escuridão e tempo. Presenças presentes, também sugeridas e multiplicadas. Apenas um ponto.
Podemos, por exemplo, celebrar assim: terei todo o gosto em oferecer um exemplar do meu livro de poemas As Súbitas Permanências ao primeiro leitor do blogue (tem de haver um critério qualquer...) que se me dirija nesse sentido, por e- mail, e não se esqueça de comunicar uma sua morada menos virtual: um lugar, uma rua, um número de porta.
post scriptum: o livrinho já encontrou o seu novo dono. Obrigado.
quarta-feira, 20 de outubro de 2010
sábado, 2 de outubro de 2010
quinta-feira, 16 de setembro de 2010
teorias portáteis sobre fotografia
segunda-feira, 13 de setembro de 2010
terça-feira, 31 de agosto de 2010
É um anexo da morada branca
para lá da sucessão das naves
Em rigor, errámos apenas de transparência
em transparência, até às cúpulas quebradas de cristal
Há mudanças de horários, atrasos nos semáforos
uma ou outra metáfora
e assim se adiam as visitas
O estilo é gracioso, com ossinhos delicados
como se fossem já maduras
os nomes que imitam, como sempre, a natureza
estragos causados por um terramoto antigo
a imagem de uma santa dando à costa num caixão
e que alguém vai recolher, após naufrágio
terça-feira, 17 de agosto de 2010
São poemas antigos. Sinto que escrevo hoje bastante melhor e bastante pior do que nesses tempos. A dedicatória que lá não está é ainda a dedicatória que lá não está. Sei que, se um dia puder publicar uma reunião de poemas meus, estes vão aparecer: primeiras pedras, seixos, pedregulhos.
I.
Súbito
a mão
para lá da
luva pespontada
aqui influi o sangue
langue o corpo exangue
dói
pelo empapado tecido opaco
enquanto duram os
mecanismos perfurantes
Mas súbito
a mão
II.
Rasga-te o pó do rosto
o trovão limpo
sobem as águas
ferros enferrujam
arcos e ângulos
rumam os barcos
o teu olhar
liso
após a tempestade
III.
Precária transparência
rente à janela rasa
duram os destroços
vivos a asa aparafusada
caindo
quartos de olhos
entreaberto círculo
espiado violada
permanência
a tua mão fria
no lençol clandestino
esvaindo
Mas súbito
copiosas chuvas
nos teus dedos
frágeis
frios
IV.
Chuva nos vidrilhos
rui o lugar enraizado
a ferro labirinto desdobrado
à chuva grossa
nos cruzamentos cerrados
abrem-se as pontas
no mudar do nevoeiro
as pontes
A tua mão
chuva concêntrica
no lago
V.
As raízes fundas perseguem
as tuas águas serenas
reentrâncias unas sugadas
pelas células mortas minerais
Envolvem férreas circunstâncias
o leito adulterado
perpassados
Mas súbito
as dunas
as mãos
VI.
Persistem as duras
cintilações nos belos
espelhos a guerra ácida
óxidos ferros persistem
Mas nos membros partidos
o súbito sereno laço
a asa asa
Silêncio
côncavo da onda
VII.
Trovejados até à lisura
os poros de areia nas pálpebras
de chuva
VIII.
Nas veias do teu olhar
no súbito seio
da tua palma clara
reerguidas as cidades
no curso dos teus dedos
E apagam-se os sinais
Esta sequência poética foi publicada em 1983, no âmbito de um concurso literário organizado pela Associação de Estudantes da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, com o apoio do F.A.O.J. (Fundo de Apoio aos Organismos Juvenis), comemorando o IV Centenário da Morte de Camões -1980-81. Coube-lhe o segundo prémio, sendo o júri constituído, nomeadamente, pelos professores Arnaldo Saraiva, José Adriano de Carvalho e representante da Associação de Estudantes. O primeiro prémio foi atribuído a Mecânica do Sexo XX, que inaugurou a obra poética de Luís Adriano Carlos, investigador e professor da Faculdade de Letras da Universidade do Porto. O terceiro ao poema "Espigas de Urze" (publicado conjuntamente com o segundo prémio), de Mª. Conceição Meireles Pereira, hoje investigadora e docente do Departamento de História da mesma Faculdade (autora, aliás, de um pequeno livro que muito aprecio: O Porto no Tempo de Garrett - Biblioteca Pub. Munic. Porto, 2000). O desenho da capa é de Ana Freire.
quinta-feira, 12 de agosto de 2010
Aqui, na página virtual de Adriana.
adriana calcanhotto . "calor" in cantada . 2002
[ O som é como um laço porque a música que nos interessa - matemática pura e longínqua- chega até ao momento vivo e contingente que é, exactamente, o nosso, aqui e agora: por exemplo, calor na varanda de Lagos sobre o verão. Adriana dá-nos nesta canção uma Winterreise tropical: o pequeno formato dos grandes sentimentos, a natureza cúmplice e adversa, geografias desencontradas, o amor projectado numa distância íntima, que as inflexões da voz explicam como é.]
sábado, 7 de agosto de 2010
teorias portáteis sobre fotografia
Momento Decisivo ou Inventário do Mundo
De entre as práticas da fotografia, procuremos reter duas polarizações, a partir das quais poderíamos graduar muitos outros percursos pessoais. São pontos de referência num universo de pesquisa estética múltiplo e cada vez mais descentrado. Cercar o mundo, estender-lhe diferentes redes de captura, sabendo que ele é matéria fugidia ou que a missão é talvez apenas impossível.
Por um lado, buscar o momento decisivo, no rasto dos passos consagrados de Henri Cartier-Bresson, das suas fotografias e escritos teóricos. Com a discrição, penetração, rapidez e rigor do olhar, fixar momentos em que o mundo como que se assemelha mais a si próprio, construindo arquétipos onde quotidiano, História da arte, geometria e ideologia dialogam numa tensão e equilíbrio enfim revelados. Só um exemplo: Derrière la gare de Saint-Lazare (Paris, 1932).
É uma cena trivial de um Paris chuvoso, que o fotógrafo-repórter percorre numa atenção quase felina. O momento decisivo: na espessura do quotidiano, na sua materialidade um pouco sórdida (pedregulhos, escadas desconjuntadas, traseiras do grande mundo), o milagre da matéria volátil e grácil da vida. O salto atrapalhado de um anónimo transeunte, para não sujar os pés na lama da cidade, repete a imagem do cartaz que anuncia a beleza leve de uma pirueta. E o fotógrafo merece, então, toda a sorte que o apuro do seu olhar justifica. No Inverno do mundo, inventar o mundo que retoma a inesperada e árdua suspensão do mundo.
Uma outra sugestão de leitura, para acompanhar a série de Hetherington: o romance de Olivier Rolin, Suite no Hotel Crystal (aqui), em que se prova, na prática, como todas as histórias do mundo se escondem e revelam no seco rol dos quartos de hotel que nos cabem ou fazemos por merecer.
J.M.T.S.
sábado, 31 de julho de 2010
sábado, 17 de julho de 2010
Bernard Plossu - Le Sommeil
Há uma vibração no círculo simples das coisas que te pertencem, quando deixas que o ar se desloque sensível e assim adormeça. Se pareces desatenta é só porque tudo habitas. Poderíamos falar da qualidade musical da luz que iluminas ou do modo rigoroso como abandonas os lençóis que vemos viverem contigo. Alguém tentará escolher uma palavra, rubato, quer dizer, chegamos um pouco tarde ou algo cedo, e isso será apenas um nome para a vida.
J.M.T.S.
domingo, 11 de julho de 2010
súbito
Súbito, nem se sabe porquê, irrompem algumas pré-histórias.Na primeira é uma história que invento, precisamente uma história, a primeira história. Recomeço-a eternamente. Escrevo e torno a escrever a sequência inicial, a única que existirá. Um homem parte, a noite vem antes do tempo, cai mais de repente, descrevem-se minuciosamente os mecanismos da tempestade, o momento de suspensão, o bater interior do espaço parado. Grandes nuvens correm nos seus olhos. Está preso ao passado que lhe escorre com a chuva, mas sente o apelo da viagem, um coração que insiste. Surge o comboio fulgurante, trovões e relâmpagos, é a hora. No fim da linha, um dia, chegará à cidade que abandonou, o ar tão fácil de respirar.
quarta-feira, 30 de junho de 2010
MONTAGEM
para a Paula e para a Sofia
E depois
eram os meninos do aniki-bobó
no campo longo as
tranças a preto e branco o bolso
do calção dava para a varanda do
rio
entre as ervas da chita o
passarinho totó e a estrela dos barcos
O comboio, a queda, o túnel, o túnel
J.M.T.S. in As Súbitas Permanências, Quasi Edições, 2001 (aqui)
Amélia Piedade
trabalhos originais para o poema "Montagem"
terça-feira, 22 de junho de 2010
teorias portáteis sobre poesia
jorge colombo, the reader (recolhido aqui)
A Leitora
Ler, e ler, por maioria de razão, poesia, poderá exigir para muitos uma metafísica, mas implica, antes de mais, e para todos, uma física. Mau estar, embaraço, desencontro. Ou então felicidade viva, corpo a corpo, talvez uma arte de amar. É o que nos propõe o pequeno filme de Jorge Colombo, The Reader: expectativa, envolvimento, ritmo, ocultação, sedução; à volta, igual e de cada vez diferente, a vida quotidiana.
Outros lugares onde se poderá aprender o mesmo: um belíssimo sítio virtual, O Silêncio dos Livros (aqui), curso acelerado que nos revela como ler implica perder, ganhar, transformar o corpo; ou o álbum de Eduardo Prado Coelho, Manuel Gusmão e Duarte Belo- O Leitor Escreve Para Que Seja Possível (aqui); ou ainda o romance de Italo Calvino, Se Numa Noite de Inverno Um Viajante (Porto, Público, colecção "Mil Folhas", nº 11, 2002- trad. José Colaço Barreiros):
Estás para começar a ler o novo romance Se Numa Noite de Inverno um Viajante de Italo Calvino. Descontrai-te. Recolhe-te. Afasta de ti todos os outros pensamentos. Deixa esfumar-se no indistinto o mundo que te rodeia. A porta é melhor fechá-la; lá dentro a televisão está sempre acesa. (...) Arranja a posição mais cómoda. Sentado, estendido, enroscado, deitado. Deitado de costas, de lado, de barriga. Na poltrona, no sofá, na cadeira de baloiço, na cadeira de praia, no pufe. Numa cama de rede, se tiveres alguma cama de rede. Em cima da cama, naturalmente, ou dentro da cama. Até podes pôr-te de cabeça para baixo, em posição de yoga. Com o livro virado ao contrário, bem entendido.
Faltará à Didáctica da Poesia (se tal não for uma contradição nos seus próprios termos) a atenção a esta física da leitura : ler alto, ouvir ler alto ou criar condições para que cada qual saiba estar de corpo perdido e reencontrado perante os poemas que existem no mundo que assim se recria.
sábado, 19 de junho de 2010
(1922-18/6/2o10)
(...) A vida está antes da morte, Enganas-te, Baltasar,a morte vem antes da vida, morreu quem fomos, nasce quem somos, por isso é que não morremos de vez, E quando vamos para debaixo da terra, e quando Francisco Marques fica esmagado sob o carro da pedra, não será isso morte sem recurso, Se estamos falando dele, nasce Francisco Marques, Mas ele não o sabe, Tal como nós não sabemos bastante quem somos, e, apesar disso, estamos vivos, Blimunda(...). memorial do convento
quinta-feira, 10 de junho de 2010
quinta-feira, 27 de maio de 2010
teorias portáteis sobre fotografia
Claro, podem expor-se, elas são mesmo o resultado de exposições várias, dos corpos, dos filmes, nas paredes. E nos livros.
terça-feira, 25 de maio de 2010
quarta-feira, 12 de maio de 2010
quarta-feira, 5 de maio de 2010
súbito
Agora o menino fixa os brilhos do Sol numa poça de água. O labirinto de ruas, esquinas, montras, espelhos, tabuletas que dizem «moda», «médico», «filatelia», «retrosaria», trouxe-o até ali, àquela praça de luz mediterrânica. Vão partir para África tios e primos, fica pequenino à sombra do vapor, um imenso paquiderme, aquele movimento do cais chora-lhe nos olhos. Ele antecipa a sirene dramática, o barco que vai desencostando, os sabidos lenços brancos. Fixa os brilhos de Sol numa poça de água, a intensidade que ofusca, e pensa, surpreendendo-se de o pensar: «Vou olhar esta luz. Daqui a muitos anos volto a pensar nela, ela existirá ainda talvez, talvez tudo exista ainda um pouco e nada tenha acabado e eu fique aqui para sempre a olhar o brilho desta água para não chorar, talvez partam mas tudo fique ainda um pouco, para sempre».
J.M.T.S. in A Minha Palavra Favorita, Centro Atlântico, 2007
terça-feira, 27 de abril de 2010
Jeanloup Sieff - Istanbul - 1959
Um barqueiro sombrio? Recorde-se a inclinação de certas horas ou o embalo com que chegam as cidades, aparecem, desaparecem com os avanços das vagas, o vogar atento dos peixes. Saltaremos de barca em barca, até alcançarmos os cais flutuantes, balançam imenso logo que neles assentamos os pés. As torres sobem até ao céu, mergulham com as casas em atropelado precipício. Um pouco mais tarde, esqueceremos a viagem na ondulação dos mercados, ruas e becos. Aí naufragaremos para sempre.
J.M.T.S.
sexta-feira, 23 de abril de 2010
O JOVEM BACH, IMPROVISANDO EM OHRDRUF
Aqui estou de improviso
rapaz solitário no gelo do tempo
aqui tão só, mal chegando aos pedais
Amélia Piedade