O JOVEM BACH, IMPROVISANDO EM OHRDRUF
Aqui estou de improviso
rapaz solitário no gelo do tempo
Talvez se chame destino, é uma cifra inspirada
água que de longe corresse nos dedos mais vivos
Ficam rígidos se paro
e a música brilha, então, silenciosa no ar da neve
Horas e horas a fio
abre-se-me a vida, imparável, submissa
como se houvesse uma glória das coisas
que assim nos fosse sensível
Voos que de voos se engendrassem
do mais surdo rumor dos dias
velórios sucessivos, a lenha conquistada
tantas outras fugas
O vento destas frinchas enregela os ossos
oxida a floresta dos tubos
musa de um desarmado fervor cósmico
Assim se aprende
no acaso decidido dos meus dedos
que tudo pode afinal acontecer
aqui tão só, mal chegando aos pedais
aqui tão só, mal chegando aos pedais
que movem o mundo
J.M.T.S. in As Súbitas Permanências, Quasi Edições, 2001 (aqui)
Amélia Piedade
trabalhos originais para o poema
"O Jovem Bach, improvisando em Ohrdruf"
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