J.M.T.S.
súbito
Desta vez é conduzido pela mão antiga do avô. Ele mostra-lhe as obras na cidade, leva-o nas ruas invadidas pela noite. Os operários aparecem das valas, lançam para as bermas uma terra que vem muito do fundo, os torrões rolam até aos nossos sapatos profanos. Outros avançam, quase sinistros, empunhando bicos de gás, vivem nas máscaras onde se reflecte, bruxuleante, a torre da cidade, a mesma que vê do seu quarto, entre os lençóis e as cortinas. É preciso ter cuidado nas esquinas apertadas, por entre os agudos afloramentos de granito, que são casas cegas no meio das casas com gente lá dentro, é preciso ter cuidado com os eléctricos, diz o avô, cortam de repente as curvas e as plataformas avançam sobre os passeios, mas ele leva-o pelo lado de dentro. É então que sente, como se fosse uma presença escondida, a atmosfera dos portais, um ar laboriosamente edificado, pica nos olhos e no nariz, húmido e denso.
Desta vez é conduzido pela mão antiga do avô. Ele mostra-lhe as obras na cidade, leva-o nas ruas invadidas pela noite. Os operários aparecem das valas, lançam para as bermas uma terra que vem muito do fundo, os torrões rolam até aos nossos sapatos profanos. Outros avançam, quase sinistros, empunhando bicos de gás, vivem nas máscaras onde se reflecte, bruxuleante, a torre da cidade, a mesma que vê do seu quarto, entre os lençóis e as cortinas. É preciso ter cuidado nas esquinas apertadas, por entre os agudos afloramentos de granito, que são casas cegas no meio das casas com gente lá dentro, é preciso ter cuidado com os eléctricos, diz o avô, cortam de repente as curvas e as plataformas avançam sobre os passeios, mas ele leva-o pelo lado de dentro. É então que sente, como se fosse uma presença escondida, a atmosfera dos portais, um ar laboriosamente edificado, pica nos olhos e no nariz, húmido e denso.
J.M.T.S. in A Minha Palavra Favorita, Centro Atlântico, 2007
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