processos sumários
ESPLENDOR NA RELVA:
SOBRESSALTO, COM ALUSÃO
A WORDSWORTH E RUY
BELO
É quando o filme, na velha cassete
a uma hora e vinte e quatro minutos
salta de repente, ferido dos riscos
da fricção do mundo, e treme o céu
as paisagens se desfocam
Não estava previsto no ardor
da ode primitiva, nem no guião
reescrito em noites de fumo e insónia
de onde saiu tão acabado o enredo
Deanie Loomis, na consagrada
flor da sua glória, por entre os cenários
devastados do Kansas, o olhar poderoso
e frágil, os seios intensamente breves
hesita agora nos sobressaltos da matéria
e num tempo medido
para cá
de todo o drama, da redenção
e do mais sublime, como se afinal
de facto se afogasse, mas tão distante
do imenso fragor das cataratas
Que fazer para continuarmos
demasiadamente felizes, jubilosamente
em desespero, nos intervalos
da insuspeita suspensão da vida
e ter depois de sair para a rua
e para as luzes assim descompassadas
quando os gestos retomam o seu peso
adormecido na escuridão que fica
por dentro de todo o esplendor
e seria preciso que Deanie nos viesse explicar
como nos apaixonarmos, como nos perdermos
e nos reencontrarmos, mas é nosso o temor
de que ela, no seu caminho por entre as mais
se afaste em demasia para longe
e só
a possam abrigar poemas e relvados
muito mais do que perfeitos
Stéphane Louis
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