sam shepard / in Crónicas Americanas, Difel, s.d.
(Tradução de José Vieira de Lima)
(Tradução de José Vieira de Lima)
Vejo o meu filho mexer-se, enquanto sonha
Enquanto dorme, de lado, numa cama de motel
No quarto ao lado, um casal discute
Ele repete: «Então, Lorraina, não faças isso!»
Ela repete: «Porquê?»
Nadadores mergulham na piscina, lá fora
Nadando na noite
Nem uma só voz
Só
Os braços que batem a água
Enquanto
O miúdo estremece
Dá voltas com a cabeça na almofada
Há um sonho que passa dentro dele
A sua voz
Sem palavras
Os Grandes Montes Tetons assomam, de fora, à nossa janela
Sem neve
Azuis
O Rio Snake serpenteia à volta da nossa cama
Sibila para dentro de si mesmo
O tipo com o cinturão de cartucheira chega à janela e berra
«Mais cuidado com essa linguagem» para o casal que se trava de razões
O casal cala-se
Solta risinhos abafados
O rodeo acaba
Ouvem-se os camiões
O Café Elk Horn enche-se de montadores de touros
A águia voa no encalço de uma truta
Alguém deixa cair uma moeda na máquina do gelo
A máquina cumpre com um baque seco
Os nadadores deixam a piscina
Agora estão a falar
Mas não consigo entender as palavras
Os alces seguem para norte
(Quase que podemos ouvi-los)
O urso pardo segue para onde lhe apetece
(Ontem comeu três caminhantes)
O meu miúdo anda aos saltos, enquanto sonha
Uma espingarda dispara
O casal grita
O miúdo acorda
5/8/80
Jackson, Wyoming
Edward Hopper
Gas, 1940
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