rosa maria martelo / in Matéria, Averno, 2014
CORTES
Sobre
a mesa iluminada pela luz da tarde, uma jarra de flores expõe a beleza
cortada, agonizante, assassinada pelo amor da beleza, que a trouxe para
dentro de casa, para morrer. Muito juntas, as flores sobrevivem ainda, e
encenam no pouco tempo que resta o mundo de onde vieram. Parecem vivas,
quase deixam esquecer que são o grande ramo da morte a emergir de um
frasco transparente. A contemplação da beleza: acredita na suspensão
absoluta do instante, mesmo se tudo em volta lhe diz que não é bem disso
que se trata. Repara, alguns ramos já começam a secar.
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