depois os olhos, quando o encontram, encontram só a cidade
Nesta
história sabe que o pai vem de longe, calcorreou ruas, vielas, praças
em diagonal, jardins, escadinhas, é um ponto na muralha, nos planos
desdobrados e encaixados, até desembocar neste caminho junto ao rio.
Encontram-se, estranham-se no modo como os olhos são vivos e únicos, se
cruzam e se perdem. Todos dizem «o teu andar é tão igual ao do teu pai» e
ele força o que julga serem os pontos de semelhança, um ligeiro curvar,
uma coisa assim, mas, no esforço, fica menos parecido e o resultado é
grotesco. O pai vai partir um dia, atravessará a grande ponte, segue-o
com a vista, aos poucos tornar-se-á difícil distingui-lo, perde-o por
momentos, torna a vê-lo numa curva, depois os olhos, quando o encontram,
encontram só a cidade. Atravessa também a ponte, sabe que tem de
inventar os seus passos, no modo mais antigo e natural, tropeça sempre
um pouco. No caminho encontra uma mulher que lhe lê os olhos e o abraça,
brincam nas pedrinhas da calçada os meninos que um dia poderão também
contar esta história.
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