Rosa Mesquita tem-se dedicado à investigação em torno da poesia portuguesa contemporânea. Abordou no seu trabalho de mestrado a relação entre o Cinema e a Poesia de Manuel Gusmão e trabalha actualmente no seu doutoramento, na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, sob a orientação de Rosa Maria Martelo.
poesia . fotografia . & etc.
Talvez o mundo não seja pequeno / Nem seja a vida um fato consumado . Chico Buarque de Hollanda, com Gilberto Gil
quarta-feira, 28 de dezembro de 2011
Rosa Mesquita tem-se dedicado à investigação em torno da poesia portuguesa contemporânea. Abordou no seu trabalho de mestrado a relação entre o Cinema e a Poesia de Manuel Gusmão e trabalha actualmente no seu doutoramento, na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, sob a orientação de Rosa Maria Martelo.
sexta-feira, 23 de dezembro de 2011
quarta-feira, 7 de dezembro de 2011
händel . amadigi di gaula . sara mingardo, contralto
aria di dardano "pena tiranna". concerto italiano | rinaldo alessandrini
[definição de música: escrita e grão da voz, sucessão de solenes sinais, mas com um escuro por detrás, razão pura que ilumina o puro coração, fidelidade e improviso, necessidade e acidente, quer dizer, vida propriamente viva]
A lembrança desta música veio-me de um dos meus lugares favoritos, aqui. Outras músicas na etiqueta correspondente (o som é como um laço) ou aqui.
sábado, 26 de novembro de 2011
ESTRELA CADENTE SOBRE O MAR
Na noite das estrelas cravejadas
rasga o vazio a improvável luz
de enorme negro afinal intenso
o fundo atento a ondas espelhadas
Olho-te os olhos lentos de surpresa
o trânsito da chama tão visível
que do abismo dos peixes cintilantes
se anuncia fatal e assim aéreo
Se esta queda fulgura inteiramente
detém-se no atrito de um olhar
em que demora o pó remanescente
Então o mar iluminando os tempos
de estrelas longamente fixadas
deixa arder ao passar esse desejo
J.M.T.S. in As Súbitas Permanências, Quasi Edições, 2001 (aqui)
Star Diary I . Paula Catão
filme de Pedro Teixeira
.
terça-feira, 22 de novembro de 2011
As imagens de batatas, borboletas e meninas fazem parte de conjuntos iconográficos cujo desenvolvimento teve como referente o arquivo do Instituto de Reinserção Social para Raparigas, que durante décadas esteve sediado no espaço do Convento Corpus Christi, nas margens do Douro, em Vila Nova de Gaia.
fotografia de Amélia Nabais a partir de instalação
ANIMA é uma sequência poética a partir do projecto Espaço (I)maculado, nas edições Língua Morta. (aqui)
tecidas de puída transparência
e nascem borboletas de asas tão pesadas
quarta-feira, 9 de novembro de 2011
As imagens de batatas, borboletas e meninas fazem parte de conjuntos iconográficos cujo desenvolvimento teve como referente o arquivo do Instituto de Reinserção Social para Raparigas, que durante décadas esteve sediado no espaço do Convento Corpus Christi, nas margens do Douro, em Vila Nova de Gaia.
ANIMA é uma sequência poética a partir do projecto Espaço (I)maculado, nas edições Língua Morta. (aqui)
são os poços do ar, as meninas perdidas
domingo, 6 de novembro de 2011
JOHN KEATS, RECOSTADO A UMA COLUNA ROMANA
Adormece o alheio esplendor no leito
das pedras, quando, tão brutais, suspendem
as nuvens altas, o rosto de Roma
luminoso e volátil sob os olhos
Esqueço os céus remotos, a terra mágica
e declino, na urna do silêncio
as volúveis canções primaveris
entre cacos, ossos, imensos versos
Como dizer o peso e a doçura
desse mundo que já repousa em mim
depois de mim, ausente esta alegria
que agora se respira para sempre?
J.M.T.S. in As Súbitas Permanências, Quasi Edições, 2001 (aqui)
segunda-feira, 31 de outubro de 2011
teorias portáteis sobre fotografia
sexta-feira, 21 de outubro de 2011
fotografia de Amélia Nabais a partir de instalação
ANIMA é uma sequência poética a partir do projecto Espaço (I)maculado. A sair em finais de Outubro nas edições Língua Morta. (aqui)
o que sempre assim fica por rimar
segunda-feira, 17 de outubro de 2011
ROMA, CEMITÉRIO PROTESTANTE
Ali fica o lugar dos estrangeiros
o inverso jardim anunciado
pelo sopro dos ciprestes, o baque repetido
das folhas dispostas sobre o musgo
Recolhe-se um murmúrio, o nome
do poeta escrito para sempre pela água
Eis a selva delicada, violetas
lírios violentos, um império dos gatos
Retomam o salto primitivo, soltam uma vida
por entre a tepidez terrífica das asas
Como se afundam donzelas em relvados
todo o tempo para as tranças de pedra
as mãos em abandono sobre os seios
pomos lentamente congelados
Chegaram pelo claro vapor da manhã
vaguearam as tardes estiradas pelas praças
pressentem nocturno o suspiro das fontes
o cerco de colunas derrubadas
sabiamente dispersas pelas colinas
e ali alcançam uma vida atrás da outra
as cúpulas mais distantes da cidade
J.M.T.S. in As Súbitas Permanências, Quasi Edições, 2001 (aqui)
segunda-feira, 10 de outubro de 2011
A MULHER NUA
Há um rumor no silêncio que atordoa
Assim fulgura a palidez da pele
de sombras nuamente sustentadas
Abandonas a túnica inconsútil
no peso repousado que respira
serenas gradações precipitadas
halos breves da mais densa penugem
Como abraçar toda a nudez mais nua
se intensamente tão de si vestida?
J.M.T.S. in As Súbitas Permanências, Quasi Edições, 2001 (aqui)
quarta-feira, 28 de setembro de 2011
LONDRES, DEDICATÓRIAS NOS BANCOS DOS JARDINS
para a Inês
Por aqui outro alguém muito passava, deixou poucas palavras
Sentava-se nestas sombras, exactamente como
Mrs. Dalloway, que foi ficando, folha após folha?
Abandonar assim a memória mais suave
cada instante de vida em debandada
inocente oscilação de galhos sobre galhos
Que só com alheia distracção
atentem nas palavras que ficaram
e se perdem assobiando para os pássaros
Um desejo eternamente confundido
no enleio sussurrante do jardim
A vida ou o salto infindo dos esquilos
apenas o modo brusco como toda a árvore
cai para sempre em cada folha
Iam e vinham das torres sobre torres
cruzavam-se no nevoeiro, brilhantes de memória
Iluminem agora outros as suas mágoas
na transparência obscura dos nenúfares
respirem a íntima vastidão dos relvados
feridos de estrelas um dia pressentidas
Como um livro, veloz memória
que o esquecimento variamente desfolhasse
numa história de chuvas entranhadas
e perfumes sabiamente evanescentes
J.M.T.S. in As Súbitas Permanências, Quasi Edições, 2001 (aqui)
sábado, 17 de setembro de 2011
J.M.T.S.
sábado, 10 de setembro de 2011
PORTO, TRASEIRAS DA SÉ
para os meus pais
São nossos, tão de longe, esses olhos
Por aqui sempre ficaram
no esplendor reverso das traseiras
Longamente inscrevem, na luz que os enruga
a mais aérea e límpida gravura
Tudo o que da água sabe o filho de um peixe
assim nos ensinam, distraídos
a inclinar a cabeça, como evitar
a demorada disposição da terra
um tempo que em relances se acumula
Encontramo-nos todos nestes pátios
inocentes das nuvens que nos sabem
Há luzes que se acendem a espaços
pelo granito, caliça, ferros, aquela torre
Alguém de novo as vê uma primeira vez
J.M.T.S. in As Súbitas Permanências, Quasi Edições, 2001 (aqui)
sábado, 3 de setembro de 2011
michelangelo antonioni . blow- up . 1966
com David Hemmings e Vanessa Redgrave
O cinema, a fotografia. Momentos congelados que perseguimos na sua perfeição serena ou terrível. Mas obrigamo-nos a ir mais longe, a ligar no tempo duas imagens, chegar sempre mais perto, procurando uma verdade desfocada ou o mistério que permita salvar as vidas.
segunda-feira, 22 de agosto de 2011
ILHA DE MALTA, O ESPAÇO
O exposto segredo das ilhas, os seus caminhos
Um prenúncio de lábios chama-o de perto
mas é do outro lado e vem pelas ondas
Perseguir o laborioso recorte dos peixes
avanços de pedra em pedra, a luz em pó
descansar na parede quente, respirando
Assim sonhamos de costas que se voltam para o mar
Como quem esquece
inspiram-te as ruas transversais
alguém te perde em corredores de sombra e tempo
e depressa se chega, ei-lo, é o esplendor da baía
O modo denso como a água nos ilumina os olhos
trabalhos da alegria, profundidade
a que chega toda a transparência
J.M.T.S. in As Súbitas Permanências, Quasi Edições, 2001 (aqui)
sexta-feira, 12 de agosto de 2011
lugares & viagens & livros
LAGOS / Sophia de Mello Breyner Andresen / Paul Klee
Caminho da Manhã
Lá dentro ficarás ajoelhada na penumbra olhando o branco das paredes e o brilho azul dos azulejos. Aí escutarás o silêncio. Aí se levantará como um canto o teu amor pelas coisas visíveis que é a tua oração em frente do grande Deus invisível.
paul klee
quinta-feira, 4 de agosto de 2011
bluebird, uma animação de monika umba a partir de um poema de charles bukovski
visto aqui
there's a bluebird in my heart that
wants to get out
but I'm too tough for him,
I say, stay in there, I'm not going
to let anybody see
you.
there's a bluebird in my heart that
wants to get out
but I pur whiskey on him and inhale
cigarette smoke
and the whores and the bartenders
and the grocery clerks
never know that
he's
in there.
there's a bluebird in my heart that
wants to get out
but I'm too tough for him,
I say,
stay down, do you want to mess
me up?
you want to screw up the
works?
you want to blow my book sales in
Europe?
there's a bluebird in my heart that
wants to get out
but I'm too clever, I only let him out
at night sometimes
when everybody's asleep.
I say, I know that you're there,
so don't be
sad.
then I put him back,
but he's singing a little
in there, I haven't quite let him
die
and we sleep together like
that
with our
secret pact
and it's nice enough to
make a man
weep, but I don't
weep, do
you?