súbito a mão
São poemas antigos. Sinto que escrevo hoje bastante melhor e bastante pior do que nesses tempos. A dedicatória que lá não está é ainda a dedicatória que lá não está. Sei que, se um dia puder publicar uma reunião de poemas meus, estes vão aparecer: primeiras pedras, seixos, pedregulhos.
I.
Súbito
a mão
para lá da
luva pespontada
aqui influi o sangue
langue o corpo exangue
dói
pelo empapado tecido opaco
enquanto duram os
mecanismos perfurantes
Mas súbito
a mão
II.
Rasga-te o pó do rosto
o trovão limpo
sobem as águas
ferros enferrujam
arcos e ângulos
rumam os barcos
o teu olhar
liso
após a tempestade
III.
Precária transparência
rente à janela rasa
duram os destroços
vivos a asa aparafusada
caindo
quartos de olhos
entreaberto círculo
espiado violada
permanência
a tua mão fria
no lençol clandestino
esvaindo
Mas súbito
copiosas chuvas
nos teus dedos
frágeis
frios
IV.
Chuva nos vidrilhos
São poemas antigos. Sinto que escrevo hoje bastante melhor e bastante pior do que nesses tempos. A dedicatória que lá não está é ainda a dedicatória que lá não está. Sei que, se um dia puder publicar uma reunião de poemas meus, estes vão aparecer: primeiras pedras, seixos, pedregulhos.
I.
Súbito
a mão
para lá da
luva pespontada
aqui influi o sangue
langue o corpo exangue
dói
pelo empapado tecido opaco
enquanto duram os
mecanismos perfurantes
Mas súbito
a mão
II.
Rasga-te o pó do rosto
o trovão limpo
sobem as águas
ferros enferrujam
arcos e ângulos
rumam os barcos
o teu olhar
liso
após a tempestade
III.
Precária transparência
rente à janela rasa
duram os destroços
vivos a asa aparafusada
caindo
quartos de olhos
entreaberto círculo
espiado violada
permanência
a tua mão fria
no lençol clandestino
esvaindo
Mas súbito
copiosas chuvas
nos teus dedos
frágeis
frios
IV.
Chuva nos vidrilhos
espalhados
rui o lugar enraizado
a ferro labirinto desdobrado
à chuva grossa
nos cruzamentos cerrados
abrem-se as pontas
no mudar do nevoeiro
as pontes
A tua mão
chuva concêntrica
no lago
V.
As raízes fundas perseguem
as tuas águas serenas
reentrâncias unas sugadas
pelas células mortas minerais
Envolvem férreas circunstâncias
o leito adulterado
rui o lugar enraizado
a ferro labirinto desdobrado
à chuva grossa
nos cruzamentos cerrados
abrem-se as pontas
no mudar do nevoeiro
as pontes
A tua mão
chuva concêntrica
no lago
V.
As raízes fundas perseguem
as tuas águas serenas
reentrâncias unas sugadas
pelas células mortas minerais
Envolvem férreas circunstâncias
o leito adulterado
os dedos cerrados
perpassados
Mas súbito
as dunas
as mãos
VI.
Persistem as duras
cintilações nos belos
espelhos a guerra ácida
óxidos ferros persistem
Mas nos membros partidos
o súbito sereno laço
a asa asa
Silêncio
perpassados
Mas súbito
as dunas
as mãos
VI.
Persistem as duras
cintilações nos belos
espelhos a guerra ácida
óxidos ferros persistem
Mas nos membros partidos
o súbito sereno laço
a asa asa
Silêncio
a tua mão
côncavo da onda
VII.
Trovejados até à lisura
os poros de areia nas pálpebras
de chuva
VIII.
Nas veias do teu olhar
no súbito seio
da tua palma clara
reerguidas as cidades
no curso dos teus dedos
E apagam-se os sinais
côncavo da onda
VII.
Trovejados até à lisura
os poros de areia nas pálpebras
de chuva
VIII.
Nas veias do teu olhar
no súbito seio
da tua palma clara
reerguidas as cidades
no curso dos teus dedos
E apagam-se os sinais
acumulados
Esta sequência poética foi publicada em 1983, no âmbito de um concurso literário organizado pela Associação de Estudantes da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, com o apoio do F.A.O.J. (Fundo de Apoio aos Organismos Juvenis), comemorando o IV Centenário da Morte de Camões -1980-81. Coube-lhe o segundo prémio, sendo o júri constituído, nomeadamente, pelos professores Arnaldo Saraiva, José Adriano de Carvalho e representante da Associação de Estudantes. O primeiro prémio foi atribuído a Mecânica do Sexo XX, que inaugurou a obra poética de Luís Adriano Carlos, investigador e professor da Faculdade de Letras da Universidade do Porto. O terceiro ao poema "Espigas de Urze" (publicado conjuntamente com o segundo prémio), de Mª. Conceição Meireles Pereira, hoje investigadora e docente do Departamento de História da mesma Faculdade (autora, aliás, de um pequeno livro que muito aprecio: O Porto no Tempo de Garrett - Biblioteca Pub. Munic. Porto, 2000). O desenho da capa é de Ana Freire.
Esta sequência poética foi publicada em 1983, no âmbito de um concurso literário organizado pela Associação de Estudantes da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, com o apoio do F.A.O.J. (Fundo de Apoio aos Organismos Juvenis), comemorando o IV Centenário da Morte de Camões -1980-81. Coube-lhe o segundo prémio, sendo o júri constituído, nomeadamente, pelos professores Arnaldo Saraiva, José Adriano de Carvalho e representante da Associação de Estudantes. O primeiro prémio foi atribuído a Mecânica do Sexo XX, que inaugurou a obra poética de Luís Adriano Carlos, investigador e professor da Faculdade de Letras da Universidade do Porto. O terceiro ao poema "Espigas de Urze" (publicado conjuntamente com o segundo prémio), de Mª. Conceição Meireles Pereira, hoje investigadora e docente do Departamento de História da mesma Faculdade (autora, aliás, de um pequeno livro que muito aprecio: O Porto no Tempo de Garrett - Biblioteca Pub. Munic. Porto, 2000). O desenho da capa é de Ana Freire.
2 comentários:
Zé Manel, decerto publicarás, um dia, os teus poemas reunidos. Mais cedo ou mais tarde a qualidade faz o seu caminho.
Já pus o teu blogue nos meus links.
Abraço grande,
I.
Muito obrigado, Inês.
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