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Talvez o mundo não seja pequeno / Nem seja a vida um fato consumado . Chico Buarque de Hollanda, com Gilberto Gil
domingo, 22 de janeiro de 2017
sexta-feira, 13 de janeiro de 2017
sublinhados & notas
depoimento no dossier Eros e Literatura (revista digital Caliban: aqui)
- organização de Maria da Conceição Caleiro
eleger um autor e um livro
ou uma passagem de um autor
ou uma passagem de um autor
de língua portuguesa sentidos
como particularmente perturbantes
como particularmente perturbantes
EROS e LITERATURA
Escolho o célebre conto “Missa do Galo” de Machado de Assis. Trata-se, na
aparência, de uma simples conversa entre uma personagem feminina, Conceição,
uma “balzaquiana”, e o narrador, um jovem de dezassete anos. Abordam-se temas
anódinos e até com um pretexto da área do sagrado (a referida missa), mas é, na
verdade, um texto onde perpassa uma insinuante tensão erótica. Nele aprendemos
que o fundamental do erotismo talvez seja, afinal, conversa, minuciosos
preliminares do impossível: o entredito, o interdito, o inaudito, o
subentendido, numa coreografia de palavras e gestos marcada por aproximações e
afastamentos, alguns avanços, muitos recuos. Apuradas as contas, o exercício de
sedução tem como alvo o leitor, sendo a literatura o seu principal agente- só porque
ela assim tão profundamente tem a ver com os humanos e a dança com que eles se
repelem e logo atraem.
Também pensei no Amor de Perdição de Camilo, na relação Simão / Mariana,
por contraste com o par Simão / Teresa. É o conhecido “triângulo amoroso”, mas
a figura de Mariana impõe-se por si mesma. O romance vive de uma espécie de
tensão entre o corpo da paixão e, com Mariana, a paixão como corpo.
A perdição é também a desse encontro/ desencontro, Simão e Mariana enfim unidos
na turbulência fatal das águas, tudo finalmente à deriva. Retenho ainda um
diálogo entre Mariana e Simão, na sequência final do capítulo VIII, feito
simultaneamente de inocência e ousadia, pudor e oferecimento.
Estive quase a escolher Os Maias de Eça de Queiroz. Poderíamos falar da
perturbação erótica que perpassa no romance, reflectindo a partir de duas
descrições paradigmáticas- do incesto inconsciente (capítulo XIV) e do incesto
consciente (capítulo XVII), como se se tratasse de duas faces do erotismo
(espiritualidade vs. carnalidade).
Lembrei-me de Aparição de Vergílio Ferreira e da relação Alberto /
Sofia. Há nela uma dimensão erótica que não encontra lugar na tentativa, por
parte do protagonista, de compreensão do “eu” e do “mundo”, na sua busca de um
difícil apaziguamento. O erotismo é aí um sítio de absoluto desespero e
desamparo.
Devo ainda confessar que pensei no Delfim de Cardoso Pires e na sua
Maria das Mercês, na Judite de Nome de Guerra de Almada e em algumas
passagens de Confissões de Narciso do brasileiro Autran Dourado.
jmts
Masao Yamamoto
visto aqui
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