OTERCEIROTEXTO
O dilema é o seguinte: numa boa tradução, os dois textos de partida
e de chegada deveriam ser avaliados por um terceiro inexistente.
e de chegada deveriam ser avaliados por um terceiro inexistente.
Paul Ricoeur, Sobre a Tradução (Cotovia, 2005)
Traduzir poesia é, como sabemos, impossível, mas faz-se e é útil. Alarga-nos os horizontes e evita que, enquanto poetas, estejamos sempre a descobrir o fogo ou a roda. Paul Ricoeur, no seu Sobre a Tradução (Cotovia, 2005), explica-nos que sempre se traduziu, facto tão notável como a famigerada incomunicabilidade. É assunto de viajantes, mercadores, embaixadores e espiões. É a esta espécie que pertencem os tradutores de poemas: missão impossível que se faz com paciência e algum ardor, traições, jogo duplo.
Tenho traduzido poemas de Sinéad
Morrissey (Irlanda, 1972). É uma poeta cuja escrita me seduz. Acho-a intensa, sugestiva, provocatória q.b. Fazer versões
dos seus textos é para mim aliciante, um corpo a corpo bastante útil
enquanto prática de escrita. Para mais, o inglês é uma língua que me
oferece resistência, não tenho com ela uma imediata afinidade, e isso é
muito interessante como desafio de tradução. Impus-me o
projecto de ir trabalhando poemas dos cinco livros que Sinéad Morrissey já publicou.
Trata-se sempre de tentar um texto em português viável enquanto tal, numa liberdade que seja fiel ao que no outro é letra litoral (para usar um título de Eduardo Prado Coelho)- tão letra quanto litoral. Ou algo de preferência mais simples e forte do que estas boas intenções.
As minhas traduções de Sinéad Morrissey têm aparecido na Enfermaria 6, lugar, como sabemos, de frequência problemática (veja-se Tchekhov).