LONDRES, DEDICATÓRIAS NOS BANCOS DOS JARDINS
para a Inês
Por aqui outro alguém muito passava, deixou poucas palavras
Sentava-se nestas sombras, exactamente como
Mrs. Dalloway, que foi ficando, folha após folha?
Abandonar assim a memória mais suave
cada instante de vida em debandada
inocente oscilação de galhos sobre galhos
Que só com alheia distracção
atentem nas palavras que ficaram
e se perdem assobiando para os pássaros
Um desejo eternamente confundido
no enleio sussurrante do jardim
A vida ou o salto infindo dos esquilos
apenas o modo brusco como toda a árvore
cai para sempre em cada folha
Iam e vinham das torres sobre torres
cruzavam-se no nevoeiro, brilhantes de memória
Iluminem agora outros as suas mágoas
na transparência obscura dos nenúfares
respirem a íntima vastidão dos relvados
feridos de estrelas um dia pressentidas
Como um livro, veloz memória
que o esquecimento variamente desfolhasse
numa história de chuvas entranhadas
e perfumes sabiamente evanescentes
J.M.T.S. in As Súbitas Permanências, Quasi Edições, 2001 (aqui)
jmts