no conservatório regional de v.n. gaia
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J.M.T.S.
A infância, a toda a volta do quarto da mãe, é Valparaíso, um cais que distribui estranha gente pelas ruas, estivadores, marinheiros, santas e mulheres selvagens, chegadas e partidas. É uma cidade que infinitamente se sobe e desce. Ao fim das tardes, alguém liberta das trapeiras gaivotas muito altas. Também existem guindastes e brinquedos mecânicos, caixinhas de música em que bate, como num sonho repetido, o coração. Está tudo edificado em excessiva luz e nas simétricas sombras, caves onde germina o bolor das horas que tombaram, mirantes para descobrir o desenho do movimento das praças. As garrafas passam de mão em mão, é puro leite ou denso veneno.
J.M.T.S.