poesia . fotografia . & etc.


Talvez o mundo não seja pequeno / Nem seja a vida um fato consumado . Chico Buarque de Hollanda, com Gilberto Gil








terça-feira, 1 de dezembro de 2015

 # Em Agenda #


Na mais recente edição do Jornal de Letras (nº 1178, 25/11 a 8/12/2015), na sua "Crónica de Poesia", Fernando Guimarães escreve sobre O Segundo Olhar- poemas escolhidos de Inês Lourenço, num texto intitulado "Segundos Olhares", em que também aborda um livro de José Ricardo Nunes e uma tradução de Lauren Mendinueta por Ricardo Marques.








 (para ler, clicar nas imagens)






segunda-feira, 16 de novembro de 2015

# Em Agenda #










Inês Lourenço 
O Segundo Olhar - poemas escolhidos


selecção, organização e posfácio de
José Manuel Teixeira da Silva 





Companhia das Ilhas  aqui
colecção azulcobalto | 031 
ISBN 978-989-8592-99-6
Páginas 200 | PVP 14 




quinta-feira, 5 de novembro de 2015

das palavras dos outros




  daniel francoy  / in blogue O Céu Vazio (aqui)


 MADRUGADA

Na cozinha adormecida  
há um peixe reduzido apenas
à cabeça e à espinha.
Ao lado, por lavar, duas taças
com um resto de vinho
cristalizado no fundo.
O demônio, quando passa,
deixa um reflexo de luar
refletido no brilho dos talheres.
O tempo, na sua ânsia
de ampulheta, deposita
um punhado mínimo de areia
no fundo das taças limpas.






Oscar Rabin
Natureza Morta com peixe
 e Pravda





quinta-feira, 8 de outubro de 2015


OTERCEIROTEXTO


Mais um poema para o meu projecto de tradução para português da obra da irlandesa Sineád Morrissey, que tenho divulgado na Enfermaria 6. Desta vez "Baltimore", que pertence ao último livro, Parallax.


In other noises, I hear my children crying-
in older children playing on the street 
past bedtime, their voices buoyant
(...)


Noutros barulhos, ouço os meus filhos a chorar-
em crianças mais velhas que brincam na rua
fora de horas, nessas vozes que vêm
(...)





sábado, 12 de setembro de 2015

sublinhados & notas



Passagens  | Teolinda Gersão | Sextante Editora | 2014


CIÊNCIA DAS PASSAGENS

Passagens de Teolinda Gersão é um livro que fica comigo. Lembrei-me, enquanto o lia, de um filme de que gosto muito: As Asas do Desejo (Der Himmel über Berlin) de Wim Wenders. A mesma multiplicação das vozes e dos pontos de vista, o deslocar da visão para uma escala englobante mas sensível, sem nada de abstracto ou totalitário; a compreensão dos pequenos dramas e enredos, o mais íntimo no seu próprio tom, mas sobre isso um sopro cósmico, um olhar angelical, sábio e sem preconceitos, envolvido e distanciado. 

E lembrei-me ainda de um outro livro, A Paixão de Almeida Faria. Guardo-o num recanto da biblioteca onde também ficará Passagens. Em ambos um tempo curto e simbólico, que se entretece do contraponto, ora agreste ora harmonioso, de vidas diferentes que se cruzam. Mas tanto o filme de Wenders como o romance de Almeida Faria deixam-nos um sobressalto, uma angústia dispersa que neste romance desembocam, porém, numa espécie de grande serenidade, que me parece característica da escrita da autora. Trata-se de uma ciência das passagens, porque "o mundo é uma oscilação perene" (para retomar a epígrafe de Montaigne).

Momentos que mais me tocaram? O arranque do romance, com a sua perspectiva inesperada e a sábia gestão das informações (um pouco como quando num célebre romance de Agatha Christie descobrimos que o assassino é o narrador com quem nos habituámos já a conviver…); a personagem Conceição, que podemos colocar a par de Piedade (justamente do livro de Almeida Faria) ou da Mulher da Esfrega de Húmus de Raul Brandão; a história (para mim comovente) de Ana e do pai, na parte 2; mas muito o impacto do conjunto, a polifonia global. 




Sinto o livro como uma espécie de música de câmara, alcançando o máximo de efeito a partir de pequenos, mas preciosos, recursos. O balanço final é de uma quase indissociação de pontos de vista e pensamentos (o exemplo máximo surge quando várias personagens parecem conversar através dos seus monólogos interiores e correntes de consciência, ou quando reproduzem o discurso de Ana já penetrado por alguma insanidade). É como se se tratasse de uma voz dentro, mas para lá, de todas as vozes. O virtuosismo do romance está em tornar habitável e como que natural esta música do mundo inteiro. 

 jmts.


sábado, 15 de agosto de 2015

das fotografias dos outros


Fui resistindo a pôr aqui fotografias feitas por outros, não sendo apenas ilustrativas ou a acompanhar textos.  Não faz sentido: o nosso olhar olha também através do olhar dos outros.




 raquel moreira

vista aqui




 

terça-feira, 11 de agosto de 2015

música de anónimo



No Ípsilon, suplemento do jornal Público (edição de 07/08/2015), Maria da Conceição Caleiro escreve sobre Música de Anónimo: "O que da vida nos olha no olhar".




(para ler, clicar na imagem)




quarta-feira, 1 de julho de 2015

das palavras dos outros




joão miguel fernandes jorge / in Pelo Fim da Tarde, Quetzal Editores,1989


Era um dia, pelo fim da tarde
o sol descia sobre
o sentimento da vida.
    
         #
Ficaram, por mais tempo, os lábios
erradios do corpo. Ia
pelos algares das torrentes
junto de selvas bravias e escuras.

          #
A noite descia. Arco que
fere a tua carta.
P'los lábios, as sílabas repetidas.

          #
Guardem, também, silêncio as
flores do limoeiro, a laranjeira.
Não sou uma única voz
na manhã do dia que findara.

          #
Estendeu a mão sobre
a hora, alta noite. Sob
o repouso encostou o rosto.

          #
Nos lábios, um sorriso
revelava o arcano do seu coração.

          #
Havia de dizer o íris de maio,
o muro branqueado
a harmonia.







Josef Sudek






segunda-feira, 15 de junho de 2015



sublinhados & notas

Uma nova etiqueta: para registar apontamentos
 de leitura, coisas à margem de livros.

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 Os Amantes da Fronteira  | Tiago Novaes | col. pequenos exílios | Dobra Editorial | São Paulo, 2014


A ORIENTE DO ORIENTE

Ao ler Os Amantes da Fronteira de Tiago Novaes, pensei muitas vezes nuns versos de Álvaro de Campos, o heterónimo pessoano mais próximo da ideia de viagem enquanto ansiada experiência de plenitude, acompanhada do seu irmão quase gémeo, o sentimento do vazio. Em "Opiário": É antes do ópio que a minh'alma é doente. / Sentir a vida convalesce e estiola / E eu vou buscar ao ópio que consola / Um Oriente ao oriente do Oriente.

Há sempre, portanto, um oriente para cada oriente e a viagem à Tailândia que ocupa o livro de Tiago Novaes pertence a esta genealogia: busca de si e do mundo eternamente insatisfeita, demanda que é também, como em Campos, fuga para a frente e, daí a muito pouco, virá a ressaca da euforia das sensações. Desta vez é a viagem de Y (que foge, aliás, de outros desencontros, na sua obsessão por W), figura exemplar, no seu irradiante anonimato, mas também uma incógnita, para o leitor e para si próprio. 

Mas neste relato que retoma relatos anteriores, relativizando os pontos de vista, predomina um tom que não é o da construção e desconstrução modernistas. Em alternativa, somos levados para uma espécie de letargia conformada, como se a virtualização do mundo e o seu continuado simulacro já não permitissem qualquer narrativa legitimadora que possa dar sentido à experiência do caos. Como na epígrafe de Nerval, "les dieux se sont envolés", incluindo os das utopias vanguardistas. Se este livro se faz de uma discreta arquitectura fluida (puro relato de viagem, meditação existencial, diário, sondagem psicológica, narrativa entre o mítico e o histórico, cenas teatrais, algum lirismo, breves sátiras), talvez a melhor imagem que dele nos fica seja a de uma estética pós-modernista (para usar um rótulo fácil) feita de pequenos videoclips. É o que diz Ártemis, a propósito da sua vida: "-Hoje meus dias se parecem com uma sequência aleatória de pequenos vídeos da internet. Até os mais interessantes são aborrecidos." (p.83). A mimese possível do nosso mundo é essa espécie de inevitável caos narrativo, que é, em boa verdade, uma sábia orquestração de materiais heterogéneos.

Os Amantes da Fronteira (além do mais, um objecto bonito e intenso- capa, badanas, papel, colecção) instala-nos, através  de uma escrita económica e precisa, e sem aviso prévio, na dinâmica de uma dimensão radical da viagem: procurar no mundo uma identidade desde sempre perdida e em metamorfose, arte de nem sequer habitar a simples estranheza de si, errando entre seres também à deriva e infinitamente híbridos- e neste ponto se convocará a parábola fundadora do peixe-gato. Ou o título: da viagem e do amor, a condenação de viver fronteiras.

Destes percursos  sem redenção, mas que mantêm a pulsão do encontro com um estado original e originário, onde o humano e a natureza enfim se encontrassem, nos dá conta uma personagem feminina inesquecível: Ártemis. Como na mitologia antiga, é um ser predador, selvagem e sintonizado com o mistério lunar. Sofre  uma via crucis pessoal que assume uma violenta sexualidade, na fronteira entre o humano e o desumano, como se, na anulação de si, se pudesse alcançar uma impossível virgindade. Descrever e tornar verosímil  um excesso assim é, sem dúvida, um dos motivos do virtuosismo desta narrativa.


   
Se não existe, de facto, tradução exacta para nada, como explica Y, este livro tem a rara virtude de nos dar da viagem e do amor a própria vertigem de atravessar territórios, e explica-nos, então, com detalhe e o método possível,  a intraduzibilidade essencial da vida. Compromete-se apenas a buscar mais um oriente do oriente ou, como diria Beckett, a falhar o melhor possível.

jmts. 





 

segunda-feira, 25 de maio de 2015

processos sumários





Um novo poema do ciclo na Enfermaria 6 :
"Questões Pedagógicas"  







Na verdade, ao ensinar, instalamo-nos / em salas ligeiramente ao lado




art deco font 
from book on lettering art (ca. 1920 - 1930)
imagem vista aqui







terça-feira, 12 de maio de 2015

  # Em Agenda #


Em metade da minha vida tenho obrigação de usar o novo acordo ortográfico (escola, relatório certinho, etc.); na outra sinto a obrigação íntima de não, naqueles textos em que exactamente evito o comodismo de escrever "etc". Reparando bem, esta última metade da minha vida é um pouco maior.




  sem título | João Vieira | 1972





terça-feira, 28 de abril de 2015



OTERCEIROTEXTO



O dilema é o seguinte: numa boa tradução, os dois textos de partida 
e de chegada deveriam ser avaliados por um terceiro inexistente.

Paul Ricoeur, Sobre a Tradução (Cotovia, 2005)




Traduzir poesia é, como sabemos, impossível, mas faz-se e é útil. Alarga-nos os horizontes e evita que, enquanto poetas, estejamos sempre a descobrir o fogo ou a roda. Paul Ricoeur, no seu Sobre a Tradução (Cotovia, 2005), explica-nos que sempre se traduziu, facto tão notável como a famigerada incomunicabilidade. É assunto de viajantes, mercadores, embaixadores e espiões. É a esta espécie que pertencem os tradutores de poemas: missão impossível que se faz com paciência e algum ardor, traições, jogo duplo. 

Tenho traduzido poemas de Sinéad Morrissey (Irlanda, 1972). É uma poeta cuja escrita me seduz. Acho-a intensa, sugestiva, provocatória q.b. Fazer versões dos seus textos é para mim aliciante, um corpo a corpo bastante útil enquanto prática de escrita. Para mais, o inglês é uma língua que me oferece resistência, não tenho com ela uma imediata afinidade, e isso é muito interessante como desafio de tradução. Impus-me o projecto de ir trabalhando poemas dos cinco livros que Sinéad Morrissey já publicou.

Trata-se sempre de tentar um texto em português viável enquanto tal, numa liberdade que seja fiel ao que no outro é letra litoral (para usar um título de Eduardo Prado Coelho)- tão letra quanto litoral. Ou algo de preferência mais simples e forte do que estas boas intenções.

As minhas traduções de Sinéad Morrissey têm aparecido na Enfermaria 6, lugar, como sabemos, de frequência problemática (veja-se Tchekhov).


  AQUI








segunda-feira, 6 de abril de 2015

as súbitas permanências


MONTAGEM
para a Paula e para a Sofia

E depois
eram os meninos do aniki-bobó
no campo longo as
tranças a preto e branco o bolso
do calção dava para a varanda do
rio
entre as ervas da chita o
passarinho totó e a estrela dos barcos
O comboio, a queda, o túnel, o túnel


J.M.T.S. in As Súbitas Permanências, Quasi Edições, 2001 (aqui)






  Manoel de Oliveira 1908-2015





domingo, 22 de março de 2015

música de anónimo




Na mais recente edição do Jornal de Letras (nº 1160, 18 a 31/03/2015), na sua "Crónica de Poesia", Fernando Guimarães fala de Música de Anónimo, num texto intitulado "O Lugar e o Ser", em que também aborda um livro de Nuno Higino.




(para ler, clicar na imagem)