poesia . fotografia . & etc.


Talvez o mundo não seja pequeno / Nem seja a vida um fato consumado . Chico Buarque de Hollanda, com Gilberto Gil








domingo, 23 de fevereiro de 2014

das palavras dos outros







fernando guimarães / in Lições de Trevas, Quasi Edições, 2002




 CEMITÉRIO INGLÊS DE ELVAS (SÉCULO XIX)


Quase todos são soldados. Aqui chegaram trazidos
por uma espécie de acaso e os seus olhos de repente fecharam-se
para encontrarem este espaço murado. Não há muitas flores. Nele
as lápides dão-nos algumas informações. Vieram de longe
e traziam consigo uma pequena luz. Esta apagou-se. Ficaram só escritos
alguns dos seus nomes; pouco se conhece acerca da viagem
que tinham iniciado. Se chega o vento, ainda traz consigo a poeira
de alguns combates. Foi há muitos anos, mas para eles o tempo
não passa porque se encontram sozinhos. É muito o que a areia
espalhada à sua volta nos oculta. Há um portão entreaberto. Por ele
entrámos e havemos de sair. Não temos pressa. Qualquer
uma das nossas mãos podia estender-se, colher o que talvez fosse
apenas uma sombra. Eles estão ali para nos dar qualquer coisa.






 Philippa Jones





imagem vista aqui



quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Ouvem-se Vozes


   
Álvaro de Campos / Dactilografia
in Poesias de Álvaro de Campos, Lisboa, Edições Ática, 1986   

leitura: JMTS


  

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

das palavras dos outros







joão cabral de melo neto / in Agrestes, Nova Fronteira,1985




 LEMBRANÇA DO PORTO DOS CAVALOS


O incenso e fumos não sagrados
o cheiro nunca dispensaram

da lama, folhas de ingazeira,
monturo e lixo, da Jaqueira.

A maré-baixa e a maré-cheia
recobrem, tiram da panela,

essa infusão que o sol destila
no meu álcool, minha bebida.

Não tem do fumo o cheiro enxuto,
cheira entre o que é vivo e o corruto,

cheira na linha da poesia:
entre o defunto e o suor de vida.


    





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