Talvez o mundo não seja pequeno / Nem seja a vida um fato consumado . Chico Buarque de Hollanda, com Gilberto Gil
quarta-feira, 28 de dezembro de 2011
ANIMA
EmPapéis | publicações, críticas, na margem direita deste blogue (ou aqui), acrescentou-se aos textos já arquivados sobre As Súbitas Permanências, de Fernando Guimarães e Ramiro Teixeira, a apresentação de Anima por Rosa Mesquita, que aconteceu no Convento Corpus Christi, em Vila Nova de Gaia, em 12 de Novembro passado. Rosa Mesquita tem-se dedicado à investigação em torno da poesia portuguesa contemporânea. Abordou no seu trabalho de mestrado a relação entre o Cinema e a Poesia de Manuel Gusmão e trabalha actualmente no seu doutoramento, na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, sob a orientação de Rosa Maria Martelo.
sexta-feira, 23 de dezembro de 2011
passagens
Giotto | O frio em volta, as cores desbotadas. Talvez algo possa sempre acontecer muito perto de nós. Somos a gente que chega de fora e se vai habituando a respirar o dia que ali se condensou. Os animais esperam na sua infinita paciência, alheios às tempestades de luz e asas. Um homem fica também de costas, como se não fosse nada com ele, perdido dentro de si. São coisas, no fundo, muito simples, alguns gestos maternais e de aconchego, deixar que um olhar possa nascer com o mundo.
sexta-feira, 16 de dezembro de 2011
UmAEspéciE de MúsicA no conservatório regional de v. n. gaia
J.M.T.S.
segunda-feira, 12 de dezembro de 2011
# Em Agenda #
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quarta-feira, 7 de dezembro de 2011
o som é como um laço
händel . amadigi di gaula . sara mingardo, contralto aria di dardano "pena tiranna". concerto italiano | rinaldo alessandrini
[definição de música: escrita e grão da voz, sucessão de solenes sinais, mas com um escuro por detrás, razão pura que ilumina o puro coração, fidelidade e improviso, necessidade e acidente, quer dizer, vida propriamente viva]
A lembrança desta música veio-me de um dos meus lugares favoritos, aqui. Outras músicas na etiqueta correspondente (o som é como um laço) ou aqui.
sábado, 26 de novembro de 2011
as súbitas permanências
ESTRELA CADENTE SOBRE O MAR Na noite das estrelas cravejadas rasga o vazio a improvável luz de enorme negro afinal intenso o fundo atento a ondas espelhadas Olho-te os olhos lentos de surpresa o trânsito da chama tão visível que do abismo dos peixes cintilantes se anuncia fatal e assim aéreo Se esta queda fulgura inteiramente detém-se no atrito de um olhar em que demora o pó remanescente
Então o mar iluminando os tempos de estrelas longamente fixadas deixa arder ao passar esse desejo
J.M.T.S. in As Súbitas Permanências, Quasi Edições, 2001(aqui)
As imagens de batatas, borboletas e meninas fazem parte de conjuntos iconográficos cujo desenvolvimento teve como referente o arquivo do Instituto de Reinserção Social para Raparigas, que durante décadas esteve sediado no espaço do Convento Corpus Christi, nas margens do Douro, em Vila Nova de Gaia.
fotografia de Amélia Nabais a partir de instalação
ANIMAé uma sequência poética a partir do projecto Espaço (I)maculado, nas edições Língua Morta. (aqui)
cerzindo de brandura as batatas tecidas de puída transparência e nascem borboletas de asas tão pesadas
segunda-feira, 14 de novembro de 2011
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J.M.T.S
quarta-feira, 9 de novembro de 2011
espaço (i)maculado . ana abreu
As imagens de batatas, borboletas e meninas fazem parte de conjuntos iconográficos cujo desenvolvimento teve como referente o arquivo do Instituto de Reinserção Social para Raparigas, que durante décadas esteve sediado no espaço do Convento Corpus Christi, nas margens do Douro, em Vila Nova de Gaia.
ANIMAé uma sequência poética a partir do projecto Espaço (I)maculado, nas edições Língua Morta. (aqui)
quando subimos ou tanto caímos são os poços do ar, as meninas perdidas
segunda-feira, 7 de novembro de 2011
# Em Agenda #
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domingo, 6 de novembro de 2011
as súbitas permanências
JOHN KEATS, RECOSTADO A UMA COLUNA ROMANA Adormece o alheio esplendor no leito das pedras, quando, tão brutais, suspendem as nuvens altas, o rosto de Roma luminoso e volátil sob os olhos Esqueço os céus remotos, a terra mágica e declino, na urna do silêncio as volúveis canções primaveris entre cacos, ossos, imensos versos Como dizer o peso e a doçura desse mundo que já repousa em mim depois de mim, ausente esta alegria que agora se respira para sempre?
J.M.T.S. in As Súbitas Permanências, Quasi Edições, 2001(aqui)
segunda-feira, 31 de outubro de 2011
ParábolaÓptica teorias portáteis sobre fotografia
Encenação de uma Encenação
O trabalho de Lacey Terrell, no projecto que intitula offSET, tem a enorme vantagem de questionar as narrativas consagradas acerca do real, da ficção, da banalidade e do mistério. A fotografia é como que inventada para reproduzir mecanicamente o real, mas a perseguição que ela lhe move ao longo da sua história vem apenas revelar o carácter potencialmente infinito e fugidio do seu objecto. Apreender o real, reproduzi-lo (offset) é necessariamente deslocarmo-nos dentro dele entre metamorfoses, vazios e sobras (off set). Se o real é reinvenção de si mesmo, a sua adiada encenação, a fotografia será, nessa medida, a encenação de uma encenação. Lacey Terrell, offSET (aqui).
As imagens de batatas, borboletas e meninas fazem parte de conjuntos iconográficos cujo desenvolvimento teve como referente o arquivo do Instituto de Reinserção Social para Raparigas, que durante décadas esteve sediado no espaço do Convento Corpus Christi, nas margens do Douro, em Vila Nova de Gaia. fotografia de Amélia Nabais a partir de instalação
ANIMAé uma sequência poética a partir do projecto Espaço (I)maculado. A sair em finais de Outubro nas edições Língua Morta. (aqui)
Há nas vidas a vida das batatas o que sempre assim fica por rimar
segunda-feira, 17 de outubro de 2011
as súbitas permanências
ROMA, CEMITÉRIO PROTESTANTE Ali fica o lugar dos estrangeiros o inverso jardim anunciado pelo sopro dos ciprestes, o baque repetido das folhas dispostas sobre o musgo Recolhe-se um murmúrio, o nome do poeta escrito para sempre pela água Eis a selva delicada, violetas lírios violentos, um império dos gatos Retomam o salto primitivo, soltam uma vida por entre a tepidez terrífica das asas Como se afundam donzelas em relvados todo o tempo para as tranças de pedra as mãos em abandono sobre os seios pomos lentamente congelados
Chegaram pelo claro vapor da manhã vaguearam as tardes estiradas pelas praças pressentem nocturno o suspiro das fontes o cerco de colunas derrubadas sabiamente dispersas pelas colinas
e ali alcançam uma vida atrás da outra as cúpulas mais distantes da cidade
J.M.T.S. in As Súbitas Permanências, Quasi Edições, 2001(aqui)
jmts
domingo, 16 de outubro de 2011
# Em Agenda #
Como quem diz: é urgente inventar algo realmente diferente, outra disposição do lugar.
quarta-feira, 12 de outubro de 2011
UmAEspéciE de MúsicA no conservatório regional de v. n. gaia
J.M.T.S.
segunda-feira, 10 de outubro de 2011
as súbitas permanências
A MULHER NUA Há um rumor no silêncio que atordoa Assim fulgura a palidez da pele de sombras nuamente sustentadas Abandonas a túnica inconsútil no peso repousado que respira serenas gradações precipitadas halos breves da mais densa penugem Como abraçar toda a nudez mais nua se intensamente tão de si vestida?
J.M.T.S. in As Súbitas Permanências, Quasi Edições, 2001(aqui)
jmts
terça-feira, 4 de outubro de 2011
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J.M.T.S.
quarta-feira, 28 de setembro de 2011
as súbitas permanências
LONDRES, DEDICATÓRIAS NOS BANCOS DOS JARDINS para a Inês
Por aqui outro alguém muito passava, deixou poucas palavras Sentava-se nestas sombras, exactamente como Mrs. Dalloway, que foi ficando, folha após folha? Abandonar assim a memória mais suave cada instante de vida em debandada inocente oscilação de galhos sobre galhos Que só com alheia distracção atentem nas palavras que ficaram e se perdem assobiando para os pássaros Um desejo eternamente confundido no enleio sussurrante do jardim A vida ou o salto infindo dos esquilos apenas o modo brusco como toda a árvore cai para sempre em cada folha Iam e vinham das torres sobre torres cruzavam-se no nevoeiro, brilhantes de memória Iluminem agora outros as suas mágoas na transparência obscura dos nenúfares respirem a íntima vastidão dos relvados feridos de estrelas um dia pressentidas Como um livro, veloz memória que o esquecimento variamente desfolhasse numa história de chuvas entranhadas e perfumes sabiamente evanescentes
J.M.T.S. in As Súbitas Permanências, Quasi Edições, 2001(aqui)
jmts
quarta-feira, 21 de setembro de 2011
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J.M.T.S.
sábado, 17 de setembro de 2011
olhos nos olhos
Bert Stern - The Last Sitting. Marilyn Monroe - 1962
Com um fio de sangue recuso esta imagem. Mostra apenas a difícil perfeição da vida: pele demasiado delicada, pronta para o tacto e inocentes pisaduras; as partes que pendem com a gravidade do tempo; tonalidades fixando os olhares que se alimentam de mim. A vida e um fio de sangue. Pormenores que, daqui a pouco (digamos, seis semanas), se esvaem para omaisdentro de si.
J.M.T.S.
terça-feira, 13 de setembro de 2011
oCorpodasLetras
deum poema de João Silveira em Haver / Dever, edições Artefacto
São nossos, tão de longe, esses olhos Por aqui sempre ficaram no esplendor reverso das traseiras Longamente inscrevem, na luz que os enruga a mais aérea e límpida gravura
Tudo o que da água sabe o filho de um peixe assim nos ensinam, distraídos a inclinar a cabeça, como evitar a demorada disposição da terra um tempo que em relances se acumula
Encontramo-nos todos nestes pátios inocentes das nuvens que nos sabem Há luzes que se acendem a espaços pelo granito, caliça, ferros, aquela torre Alguém de novo as vê uma primeira vez
J.M.T.S. in As Súbitas Permanências, Quasi Edições, 2001(aqui)
jmts
quarta-feira, 7 de setembro de 2011
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J.M.T.S.
sábado, 3 de setembro de 2011
o coração vertiginoso e a lentidão do mundo
michelangelo antonioni . blow- up . 1966 com David Hemmings e Vanessa Redgrave
O cinema, a fotografia. Momentos congelados que perseguimos na sua perfeição serena ou terrível. Mas obrigamo-nos a ir mais longe, a ligar no tempo duas imagens, chegar sempre mais perto, procurando uma verdade desfocada ou o mistério que permita salvar as vidas.
segunda-feira, 22 de agosto de 2011
as súbitas permanências
ILHA DE MALTA, O ESPAÇO
O exposto segredo das ilhas, os seus caminhos Um prenúncio de lábios chama-o de perto mas é do outro lado e vem pelas ondas Perseguir o laborioso recorte dos peixes avanços de pedra em pedra, a luz em pó descansar na parede quente, respirando Assim sonhamos de costas que se voltam para o mar
Como quem esquece inspiram-te as ruas transversais alguém te perde em corredores de sombra e tempo e depressa se chega, ei-lo, é o esplendor da baía O modo denso como a água nos ilumina os olhos
trabalhos da alegria, profundidade a que chega toda a transparência
J.M.T.S. in As Súbitas Permanências, Quasi Edições, 2001(aqui)
jmts
terça-feira, 16 de agosto de 2011
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J.M.T.S.
sexta-feira, 12 de agosto de 2011
GEOgrafias lugares & viagens & livros
LAGOS /Sophia de Mello Breyner Andresen / Paul Klee
Caminho da Manhã
Vais pela estrada que é de terra amarela e quase sem nenhuma sombra. As cigarras cantarão o silêncio de bronze. À tua direita irá primeiro um muro caiado que desenha a curva da estrada. Depois encontrarás as figueiras transparentes e enroladas; mas os seus ramos não dão nenhuma sombra. E assim irás sempre em frente com a pesada mão do Sol pousada nos teus ombros, mas conduzida por uma luz levíssima e fresca. Até chegares às muralhas antigas da cidade que estão em ruínas. Passa debaixo da porta e vai pelas pequenas ruas estreitas, direitas e brancas, até encontrares em frente do mar uma grande praça quadrada e clara que tem no centro uma estátua. Segue entre as casas e o mar até ao mercado que fica depois de uma alta parede amarela. Aí deves parar e olhar um instante para o largo pois ali o visível se vê até ao fim. E olha bem o branco, o puro branco, o branco de cal onde a luz cai a direito. Também ali entre a cidade e a água não encontrarás nenhuma sombra; abriga-te por isso no sopro corrido e fresco do mar. Entra no mercado e vira à tua direita e ao terceiro homem que encontrares em frente da terceira banca de pedra compra peixes. Os peixes são azuis e brilhantes e escuros com malhas pretas. E o homem há-de pedir-te que vejas como as suas guelras são encarnadas e que vejas bem como o seu azul é profundo e como eles cheiram realmente, realmente a mar. Depois verás peixes pretos e vermelhos e cor-de-rosa e cor de prata. E verás os polvos cor de pedra e as conchas, os búzios e as espadas do mar. E a luz se tornará líquida e o próprio ar salgado e um caranguejo irá correndo sobre uma mesa de pedra. À tua direita então verás uma escada: sobe depressa mas sem tocar no velho cego que desce devagar. E ao cimo da escada está uma mulher de meia idade com rugas finas e leves na cara. E tem ao pescoço uma medalha de ouro com o retrato do filho que morreu. Pede-lhe que te dê um ramo de louro, um ramo de orégãos, um ramo de salsa e um ramo de hortelã. Mais adiante compra figos pretos: mas os figos não são pretos mas azuis e dentro são cor-de-rosa e de todos eles corre uma lágrima de mel. Depois vai de vendedor em vendedor e enche os teus cestos de frutos, hortaliças, ervas, orvalhos e limões. Depois desce a escada, sai do mercado e caminha para o centro da cidade. Agora aí verás que ao longo das paredes nasceu uma serpente de sombra azul, estreita e comprida. Caminha rente às casas. Num dos teus ombros pousará a mão da sombra, no outro a mão do Sol. Caminha até encontrares uma igreja alta e quadrada. Lá dentro ficarás ajoelhada na penumbra olhando o branco das paredes e o brilho azul dos azulejos. Aí escutarás o silêncio. Aí se levantará como um canto o teu amor pelas coisas visíveis que é a tua oração em frente do grande Deus invisível.
paul klee
miraculous landing, 1920
Sophia de Mello Breyner Andresen, Livro Sexto, Obra Poética I, Círculo de Leitores, 1992
Paul Klee, Miraculous Landing, "112", 1920
sexta-feira, 5 de agosto de 2011
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J.M.T.S.
quinta-feira, 4 de agosto de 2011
oCorpodasLetras
bluebird, uma animação de monika umba a partir de um poema de charles bukovski
there's a bluebird in my heart that wants to get out but I'm too tough for him, I say, stay in there, I'm not going to let anybody see you.
there's a bluebird in my heart that wants to get out but I pur whiskey on him and inhale cigarette smoke and the whores and the bartenders and the grocery clerks never know that he's in there.
there's a bluebird in my heart that wants to get out but I'm too tough for him, I say, stay down, do you want to mess me up? you want to screw up the works? you want to blow my book sales in Europe?
there's a bluebird in my heart that wants to get out but I'm too clever, I only let him out at night sometimes when everybody's asleep. I say, I know that you're there, so don't be sad. then I put him back, but he's singing a little in there, I haven't quite let him die and we sleep together like that with our secret pact and it's nice enough to make a man weep, but I don't weep, do you?